Cronos Mutilando Urano, por Giorgio Vasari e Gherardi Christofano (século XVI). Palácio Velho, Florença |
Hoje, dia de feras,
Procusto me arrasta à sua senda,
estrada de aparar arestas.
Hoje, dia de feras,
sou encarcerado pelo céu
(Urano e seus velhos vícios)
e devorado pelo tempo
(Cronos chorando um blues
na solidão da sua guarita).
Hoje é dia de feras.
E eu, vítima de Minos.
E o fio?
Em algum ponto se perdeu entre feras
Em algum ponto se desfez
E como não ser eu agora
a carne de alimentar os deuses
dragões famintos, febres?
Eu e minhas pernas podres,
eu e o meu pouco fôlego,
eu e minhas doenças,
únicas verdadeiras propriedades.
Eu, fera de mim mesmo,
eu, auto-rei, auto-deus,
autófago, autômato, arauto.
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