segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Caligrafias - Poema do livro Pedra Só

CALIGRAFIAS
Poema de José Inácio Vieira de Melo,
do livro Pedra Só (Escrituras Editora, 2012).
Concepção de vídeo, direção e edição: Flaw Mendes.
Câmera e produção: Cris Leandro.
Récita (narração): José Inácio Vieira de Melo.
Música: Kronos Quartet.
Edição de áudio: Vandex.


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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles