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Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
Um comentário:
Edmar Vieira é um poeta que tem o olhar voltado para as coisas do cotidiano. A sua percepção do humano é de perplexidade, pois tão mínimos e tão efêmeros, pensamos em conquistar o Universo, quando na verdade escravizamos nosso olhar às vitrines e nosso tempo, em quitar prestações. Em "Avenida Tapajós" Edmar parece querer dizer que não avançamos muito mais que as formigas.
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