quarta-feira, 4 de março de 2009

A poesia de Ruy Espinheira Filho

Ruy Espinheira Filho, é um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, além de escritor, é jornalista, mestre em Ciências Sociais, doutor em Letras e professor de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia. Nasceu em Salvador, Bahia, em 1942. Publicou diversos livros de poemas: Heléboro, Julgado do vento, As sombras luminosas (Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa), Morte secreta e Poesia anterior, A guerra do gato (infantil), A canção de Beatriz e outros poemas, Antologia breve, Antologia poética, Memória da chuva (Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores), Livro de sonetos, Poesia Reunida e Inéditos e Elegia de agosto e outros poemas (Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, Menção Especial do Prêmio Cassiano Ricardo da UBE e 2º lugar no Prêmio Jabuti de Poesia). Lançou também vários livros em prosa: Sob o último sol de fevereiro (crônicas), O vento no tamarindeiro (contos); as novelas juvenis O Rei Artur vai à guerra, O fantasma da delegacia, Os Quatro Mosqueteiros eram três; os romances Ângelo Sobral desce aos infernos (Prêmio Rio de Literatura), Últimos tempos heróicos em Manacá da Serra e Um rio corre na Lua, e os ensaios O Nordeste e o negro na poesia de Jorge de Lima, Tumulto de amor e outros tumultos: criação e arte em Mário de Andrade e Forma & alumbramento: Poética e poesia em Manuel Bandeira.


DESCOBERTA

Só depois percebemos
o mais azul do azul,
olhando, ao fim da tarde,
as cinzas do céu extinto.

Só depois é que amamos
a quem tanto amávamos;
e o braço se estende, e a mão
aperta dedos de ar.

Só depois aprendemos
a trilhar o labirinto,
mas como acordar os passos
nos pés há muito dormidos?

Só depois é que sabemos
lidar com o que lidávamos.
E meditamos sobe esta
inútil descoberta

enquanto, lentamente,
da cumeeira carcomida
desce uma poeira fina
e nos sufoca.

                        (Heléboro, 1974)

Nenhum comentário:

Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles