domingo, 9 de agosto de 2009

A poesia de Kátia Borges



Nasceu em 1968, em Salvador, Bahia, Jornalista, mestre em Teoria e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia, trabalha no jornal A Tarde, na Bahia. Publicou o livro De volta à caixa de abelhas (2002).
Kátia teve o seu livro inédito Ticket Zen selecionado como um dos vencedores do edital para publicação de livros da Fundação Pedro Calmon, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.



De volta à caixa de abelhas 
...Me pergunto se me esqueceriam,
se eu abrisse as portas
e me afastasse e virasse árvore...
Sylvia Plath

Com zelo e alguma tristeza, guardo coisas:
cartas antigas, fotos antigas, calendários.
Se me perguntarem a razão, direi que sei, direi que um dia saberei...
Há quase um ano aguardo notícias importantes,
dentro desta caixa de abelhas.
Todas as noites, o carcereiro chega,
põe sua cabeça na pequena grade e ri.
Amanhã mesmo deixo esta coisas, esta caixa.
É algo que assumo cuidadosa, como se soubesse que não vou [voltar,
como se conhecesse o rosto que se oculta,
ou como se mentisse, quando sinto que sei.
Ontem mesmo o carcereiro esqueceu-se de vir.
Minhas lembranças zuniram tontas,
entre as paredes desta caixa,

doloridas de saudade.

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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles