terça-feira, 12 de julho de 2011

A poesia de Alexandre Bonafim

ALEXANDRE BONAFIM (Alexandre Bonafim Felizardo) nasceu em Belo Horizonte em 1976. É poeta, ficcionista e crítico literário.
Possui graduação em Licenciatura em Letras pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (2001) e mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006). Atualmente é professor colaborardor do Centro Universitário de Franca. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: poesia brasileira, literatura brasileira, literatura portuguesa, poesia portuguesa e letras.


Celebração das marés
 III

 Do poema nada nos resta
a não ser essa viagem
rumo aos mares,
esse gosto de naufrágio
ao findar das paixões,

esse astrolábio partido.

A leitura do poema,
peixe cego, barco amputado,
nada nos ensina,
em nada modifica
a força das marés.
 
Rastro de espuma
na pele dos acasos,
o poema finca suas âncoras
no sal, na eternidade,
onde nossas ausências
ardem o grito dos corais.

O poema é nudez precária,
procela sem ventos, sem nuvens.
Quando nele adormecemos,
acordamos com os ossos fraturados,
vergastados pelas maresias.

O poema é tão inútil
quanto o mar ao fim da tarde.

Por isso seu esplendor é límpido

como a beleza da morte.

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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles