quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A poesia de Helena Ortiz

Helena Ortiz é gaúcha de Pelotas, radicada no Rio de Janeiro. Publicou os livros de poesia Pedaço de Mim (1995), Azul e sem Sapatos (1997), Margaridas (1997), Em Par (2001) e Sol sobre o Dilúvio (2005), além de O silêncio das xícaras (2009), de contos. Organizou a antologia poética Sete Vozes, dirige a Editora da Palavra e edita o jornal Panorama da Palvra. Esse também era o nome do evento de poesia, dirigido por ela, que contou com a participação de aproximadamente 400 escritores durante cinco anos.

Mantém o blog http://www.integradaemarginal.blogspot.com/


Arrumando o quarto

hoje mexi em tuas coisas
em tuas mínimas coisas
em teus pequenos vestidos
tuas sandalinhas
em pedaços de coisas
que ganhavam vida em tuas mãos
ouvi teus passos curtos
te reencontrei em gavetas fechadas
armários intocados
brinquedos mudos
chorei entre tuas roupas
e precisei me dizer
para não naufragar
não mexe aí, mamãe

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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles