Salgado Maranhão é poeta e letrista de MPB. Consolidou sua carreira
nos últimos 20 anos.Vencedor do Prêmio Jabuti de 1999, com o livro "Mural
de ventos", um dos sete títulos editados, também é o vencedor do prêmio
Olavo Bilac de 2011 – prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras
(ABL).
Salgado Maranhão nasceu em Caxias, interior do Maranhão e vive no Rio
de Janeiro onde fez laços.
O livro que marcou sua inserção na poesia carioca é Ebulição da
escrivatura, publicada pela Civilização Brasileira, em 1978, uma antologia
organizada por ele, em parceria com Antonio Carlos Miguel e Sergio Natureza.
O universo poético de Salgado Maranhão despertou interesse de
estudiosos no Brasil e no exterior. Sua obra foi traduzida para diversos
idiomas.
Seu livro "A cor da palavra", publicado pela IMAGO, em 2009
é o "resultado da obstinação pela palavra de múltiplas arestas" de
que nos falará o poeta Salgado Maranhão.
Laborárduo
Meus olhos exilaram-me
na planície das palavras.
E luto com elas no breu
como um louco
que adestrasse nuvens;
_ como o outono a depenar-se.
Ainda que no desconcerto
ante as coisas que pedem silêncio.
A poesia de Salgado Maranhão por Salgado Maranhão
Salgado Maranhão: Minha poética gravita na borda da língua, nesse equilíbrio delicado em que um passo para trás é o lugar comum e um passo para frente é o ininteligível. É lógico que isto não é apenas uma atitude deliberada e racional. É um temperamento, um gostar de ser, é como se eu desejasse abrir um caminho novo na língua. Devo dizer que quando chega o poema, é uma verdadeira possessão de palavras em meus sentidos, chego a pensar que estou ficando louco. E estou: louco de luz. Depois desse momento de epifania, eu volto a retrabalhar o poema, infinitas vezes, para esgarçar ao máximo as possibilidades da palavra.
A poesia nos resgata uma voz inconsciente que fomos perdendo, aos poucos, depois da idade pré-natal. Trata-se de uma linguagem aberta, sinuosa, prenhe de significantes e irresponsável, como o discurso das crianças. A necessidade de nos ajustarmos ao mundo e às suas normas arbitrárias, em troca de afirmação e sobrevivência material, vai secando a poesia do nosso coração. Uma pessoa comum, que funcione como a maioria, do estômago para baixo, até reconhece o vigor impactante dessa forma de expressão, mas teme se comprometer com essa insanidade sã. Poeta é quem tem no DNA a doença incurável do mistério. É aquele para quem as palavras tiram a roupa e se entregam sem reserva. E não é para quem quer e nem é uma questão de privilégio, mas de destino, é mais uma questão de não saber ser de outro jeito.
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