domingo, 8 de maio de 2011

A poesia de João de Moraes Filho e Elder Oliveira

João de Moraes Filho (21/03/1977) é poeta e gestor cultural, graduado em letras pelo ILUFBA e mestrando em Cultura e Sociedade IHAC/UFBA. Publicou Pedra Retorcida: Fundação Casa de Jorge Amado / Prêmio Braskem de Cultura e Arte 2004; Portuário: Casa de Barro Edições, 2006 e Em nome dos raios: Expressão Editora, 2004. Fundou em Cachoeira a Casa de Barro Cultura Arte Educação. Atualmente dedica-se a investigação das políticas culturais para o livro e leitura no Brasil e Colômbia. Os poemas abaixo integram a seção Chuva Alheia, do livro Uno, ainda em prelo.


Colheita

Regar
os olhos

à flor da pele
sem a gota d’água
desse azul
entardecido.
Qualquer horizonte,
no risco da mão,
avermelha
a tarde despida
em teus braços.
Cada pétala
anoitecida
espinha o cheiro
esvaído
da paixão
desenhada

de gira sol.

ELDER OLIVEIRA nasceu aos 5 de dezembro de 1968 em Poções, Bahia, cidade localizada a 444 km de Salvador. Viveu a infância em Nova Canaã, cidade banhada pelos rios Gongogi e Vigário, situada a 45 km de Poções. Publicou seus primeiros versos em livretos e tablóides impressos na Tipografia Poções Ltda, de propriedade de seu tio Eurycles Macedo, poeta e jornalista autodidata. Reside atualmente em Vitória da Conquista, cidade pólo cultural e econômico da Região Sudoeste de Bahia. Participou de diversas antologias, dentre elas Antologia e Memória do VII Festival de Inverno da Bahia (Corec – 1997); O Pescador de Sonhos (da Academia de Letras de Jequié – 1998); Grandes Escritores da Bahia Vol. III (Litteris Editora – RJ, 2001); Anuário de Escritores 2001 (Litteris Editora – RJ, 2001); Concerto Lírico a Quinze Vozes (Aboio Livre Edições – Salvador – BA, 2004). Publicou os livros Malungos e Vapores & Outros Poemas (Edições UESB – Prêmio Zélia Saldanha, categoria Poesia, 2001) e O Curumim Espião (2008). Além de poeta, Elder Oliveira é músico, com canções em parcerias com importantes nomes do cenário musical do Sudoeste da Bahia.


Álbum cósmico


Pessoas geografitam
No gelo espesso da inconsciência

Noites gravitam instantâneas luas
Sobre vagalumes automáticos

Pássaros desovam os incandescentes
Pigmentos da aurora
Onde

A lírica tristeza da manhã
Nos contempla com seus grandes olhos

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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles