domingo, 28 de agosto de 2011

A poesia de Igor Fagundes

Igor Fagundes é poeta, jornalista, ator, ensaísta, crítico literário, professor universitário, doutorando e mestre em Poética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Teoria Literária e Fundamentos da Cultura Literária Brasileira. Realiza interdisciplinar de poesia, arte, mito, religião e filosofia. Autor de cinco livros, participa também de diversas antologias poéticas e é colaborador da Academia Brasileira de Letras e do Jornal Literário Rascunho. É detentor de cerca de 60 prêmios em concursos de literatura.

Chamado

como se já te conhecesse, espero-te:
mãos abertas, juntas, a equilibrar
o mar outrora preso na linha da vida
e que agora sobre as palmas se apóia.

como se não te conhecesse, aviso-te:
nele singra este homem com olhos de céu
refletido no corpo-água que a ti oferta
o sal da pele antes muralha.

como se te escrevesse, enfim, em versos
navego-te no ardor de uma palavra
em mar que ontem pensei ser meu apenas

e hoje te inunda para ser a nossa lavra.


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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles