Nascido em 1964 em Sr do Bom Fim, Jotacê Freitas, como assim ficou
conhecido pelos seus cordéis, chega a SSA em 97 para trabalhar na Feira de São
Joaquim como fiscal da Prefeitura, em 98 entra na Faculdade de Letras da UFBA,
quando sob orientação da Professora Doralice Alcoforado começa a pesquisar a
literatura popular. Na sua juventude Jotacê havia publicado versos livres e até
escrito um cordel estimulado por uma disputa entre amigos, mas fora ao se
tornar bolsista do núcleo de pesquisa em literatura da Universidade que ele
passa a valorizar a arte do cordel e se dedicar a sua própria produção.
Reconhece que no inicio não tinha respeito a métrica, hoje podendo ser visto
como uma inovação, como propôs o cordelista Antônio Vieira com o cordel
remoçado, com rimas toantes.
Carregando a marca do seu primeiro encontro com o cordel cantarolado
por um cego, por onde o menino de 10 anos passeava com sua mãe, devota de Padre
Cícero e admiradora de Lampião que fazia questão de levar um livreto de cordel
para casa; Jotacê têm hoje pra mais de 80 cordéis publicados, entre tantos
iniciados e ainda presos na sua “caixola”. Com temas diversos, que perpassam
por temáticas educativas-instrutivas (O Jumento que entrou na Universidade),
políticas, informativos aproveitando uma noticia “da hora”como “A mãe que assou
a filha numa boca de fogão”, históricas como “Cuíca de Santo Amaro, o tal poeta
desbocado!”, polêmicas como“A baleia que encalhou no dia da parada gay” entre
contos infantis e sexuais.
Atualmente Jotacê Freitas se envereda por uma escrita direcionada ao
publico infantil. Como professor e palestrante, têm exercitado a prática de
ensinar a escrever cordel, o que para ele não têm limite de idade, têm
conseguido desenvolver estas oficinas de crianças pré-escolares a idosos. Como
literário e também pesquisador do cordel, Jotacê explica o “concerto de rimas,
ortopedia métrica e informe de formas "com o próprio cordel, em o “cordel
pedagógico”.
Nos rumos da poesia marginal, para Jotacê escrever seu cordel é ter
liberdade para falar do que quizer, como e quando quizer.
OUVIDO VIROU PENICO NAS CIDADES
DA BAHIA!
Diz o dito popular
Quando alguém muito irritado
Resolve enfim se queixar
Do barulho promovido
Por outro em qualquer lugar.
A Bahia em geral
Tem produzido barulho
E nossa Lei do Silêncio
Não dá conta do embrulho
Que a Poluição Sonora
Tá virando um entulho.
Começa com as buzinas
Nas vias e cruzamentos
Por pura infantilidade
Buzinam a todo momento
Com pressa ou necessidade
De vender o equipamento.
Outro dia aconteceu
De um barbeiro reclamar
Da buzina em sua porta
Que estava a incomodar
Perguntou se estava à venda
Pois ele iria comprar.
Retado com a pergunta
O dono ameaçou
Ir em casa buscar arma
E em seguida voltou
Entrou na barbearia
E o barbeiro matou.
A barbárie está de volta
As pessoas estressadas
Trabalho engarrafamento
As ruas esburacadas
A gentileza não existe
Até a Paz anda armada.
Vizinhos não se respeitam
Cada qual faz o que quer
O som alto o futebol
A briga com a mulher
Cães latindo papagaios
E demonstrações de fé.
A educação de berço
Algo que antes se tinha
Nas famílias regulares
É coisa que se definha
O bom senso já morreu
A ignorância é rainha.
Sua liberdade finda
Aonde a minha começa
Você quer ouvir som alto
Mas a minha não é essa
Seja em casa ou na rua
Licença por favor peça.
Sabe-se que é ilegal
Mas isso virou mania
Entre jovens e coroas
Aqui em nossa Bahia
O importante é estar
Ouvindo pornofonia.
Isto em todo o estado
Leste Oeste Norte e Sul
Senhor do Bonfim Juazeiro
Alagoinhas Gandu
Barreiras e Itabuna
Em Lençóis e Camamu.
Nos incomodam nos ônibus
Ouvindo no celular
Música no viva-voz
Estridente de lascar
Obrigando a todo mundo
O seu barulho escutar.
Não se pode cochilar
Relaxar o pensamento
Durante toda a viagem
É um verdadeiro tormento
E às vezes há disputas
Entre os filhos de jumento.
Vivem no tempo antigo
Do rádio consola-corno
Pois o fone-de-ouvido
É pra evitar transtorno
Você ouve a sua música
Sem incomodar o entorno.
Mas baiano como dizem
Gosta de aparecer
Quer mostrar o aparelho
Ligado pro outro ver
A potência que ele tem
E o som que lhe dá prazer.
Funk pagode e axé
Até gospel evangélico
Rap exalta marginais
Arrocha e forró elétrico
Jornalistas locutores
São muito maquiavélicos.
‘Empurram’ diariamente
Merda nos alto-falantes
Deixando o povão ‘ligado’
No baixo nível gritante
‘Ou tão mal intencionados
Ou são muito ignorantes’.
A Bahia né só isso
Outros sons por aqui tem
MPB rock’n roll
Samba-de-roda também
Pé-de-serra e instrumental
Mas só tocam o que convém.
Mandam aumentar o som
Ouvir a todo volume
Com violência sonora
Pra escorrer o chorume
Se não gostar de barulho
Você que se acostume.
É carro de cafezinho
Propaganda em bicicleta
O camelô dos CDs
A putaria decreta
A rádio comunitária
Toca música indigesta.
Por isso os motoristas
Instalam um som potente
E como os donos do mundo
Abrem o fundo bem em frente
À casa de qualquer um
Que seja honrado e decente.
E a rua vira um brega
Não importa o horário
Dia noite ou madrugada
Se juntam os voluntários
Periguetes e putões
Nos fazendo de otários.
Ninguém pode reclamar
Pois tem medo de morrer
Com pessoa ignorante
É melhor não se meter
E esperar que a Prefeitura
Possa uma atitude ter.
As leis até que existem
Mas ninguém as faz cumprir
A SUCOM trabalha pouco
Com a equipe pra agir
A Polícia não se mete
O Detran nem tá aí.
E o carnaval continua
Durante todo o ano
Os carros fazem barulho
E os motoristas insanos
Enchem a cara de cervejas
Pra atropelar fulano.
Os psicólogos falam
Que esta exibição
É para ocultar problema
Que eles têm com a ereção
E mostram a sua potência
No carro com o sonzão.
Em frente à minha casa
Um carro desses parou
Pedi pra baixar o som
E o miserável não baixou
Me acocorei no carro
Fiz cocô no seu capô.
Ele se incomodou
Com a atitude que eu tomei
Quis brigar no meio da rua
E eu me justifiquei
Ele caga em meu ouvido
No carro dele eu caguei.
Aqui eu faço um apelo
Não transforme o meu ouvido
Em penico auricular
Não me deixe coagido
Aceite a evolução
Use o fone-de-ouvido.
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