sábado, 6 de agosto de 2016

Teoria Geral da Guerra - Poema de Edelvito Almeida do Nascimento

PICASSO, Pablo. Guernica. Pintura a óleo (349×776cm). Madrid: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 1937.



Sangue e terra:
na olaria da morte,
o barro abstrato
(matéria do monumento
erigido ao nada).

Diante do abismo,
o fim diagramado dos mapas
sobre a mesa de generais aquartelados:
cada centímetro noturno
arrastado em mil fios,
entesados e enrodilhados,
dentro da trincheira imersa
no fosso da alma do soldado.

Sangue e terra:
barro nos pares de coturno,
morte emperrando a marcha
com todos os medos sufocados
na garganta do inimigo degolado.



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Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

Cecília Meireles